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poderVamos contar fábulas, ou parábolas, como Jesus gostava de fazer, e dessas que o Millor Fernandes (re)escrevia com tanta habilidade? Na capa de seu livro “100 Fábulas Fabulosas”, obra de fino humor e grande inteligência, se lê esta frase: “Muito tempo antes do homem se organizar em Estados (homo politicus), já existiam lobos ferozes proibindo carneiros de beber sua água. O homem não tinha pensado em construir cidades, quando raposas finórias e sem escrúpulo arrancavam queijos do bico de corvos ingênuos. E quando o último homem apertar o botão (no apocalipse nuclear), haverá sapos coaxando nos pântanos cantando a glória e a sedução do lodo pantanoso”.


A corrupção está na religião, na economia de mercado, no judiciário, nas câmaras legislativas, no Congresso Nacional, nos sindicatos e nos partidos políticos, sem dúvida. Há quem não hesite em usar meios escusos, mesmo quando se trata de dividir comunidades tradicionais, alcançando milhões de membros. O nome “cristão”, “evangélico”, já não é garantia de invulnerabilidade ética. Que são os que estarão dispostos a aprender com as crises das instituições e qualquer forma de poder para um certo e “necessário” controle de fatos políticos, inclusive em situações eclesiásticas?


De um modo inaceitável, cultivando-se exceções éticas em todas as situações, as pessoas tornam-se comercializáveis do mesmo modo que partidos políticos admitem, nos cargos públicos, fraudes em concorrências comuns, e enriquecimento ilícito. Um paradoxo decisivo sobre as decisões que devemos tomar, no cotidiano das compras e negócios. A própria descartabilidade de princípios fundamentais, a magia da corrupção reciclada desde os tempos da casa-grande e senzala, lembrando Gilberto Freire, quando ministros do judiciário, notórios em envolvimento com atos ilícitos, julgam adversários políticos com aprovação pública irresponsável, impedindo observar-se a doença terminal sem terapia, nos primeiros socorros para os males imediatos, que são os comportamentos inaceitáveis por uma ética verdadeira.


Confortados por nosso conhecimento, sentamo-nos diante da Tv para assistir – absortos, encantados, enfeitiçados e arrebatados – à próxima temporada do reality show da hipocrisia. No julgamento da corrupção dos outros, quando se isentam os amigos e correligionários. Tudo conta a mesma história. A não ser uns poucos solitários, contra a correnteza, entre os que não mais se ajustam ou não desejam ser explorados dessa maneira, sabedores de que sobrevivência é o nome do jogo da convivência humana, e que o derradeiro fim é sobreviver aos outros que já se entregaram. Quem viu Sonhos, de Kurosawa, na parábola dos alpinistas perdidos numa tempestade de neve, que se entregam e morrem, sem ver que já estavam a salvo dentro do acampamento?


Ficamos fascinados com o que vemos – tal como Salvador Dalí ou Tarsila do Amaral desejavam que ficássemos, diante de suas telas, ao se esforçarem por exibir os conteúdos profundos e ocultos de nossos medos e fantasias subconscientes. Os mesmos que Sigmund Freud descreveria, afundando no vasto depósito de assombrosa criatividade inconsciente, nas representações do mal oculto nas rachaduras da alma do ser humano, empenhado em esconder as verdades e os princípios mais caros da ética fundamental.


Nem George Orwell imaginou tal mundo de acolhimento aparente, de aproximação para a transformação para os padrões que professam novos padrões na sociedade pós-industrial. As grandes questões passam ao largo. Como a discriminação racial, a fome, as desigualdades, a má distribuição dos bens sociais, a miséria, os hospitais que funcionam como açougues, as escolas caindo aos pedaços – quando não levadas na primeira enchente.


Mas riqueza não é dinheiro, é a produção de coisas que podem ser compradas com dinheiro: alimento, educação, saúde, longevidade (que é o que você leva quando compra um antibiótico da nem sempre escrupulosa indústria farmacêutica), disse Alexandre Versignassi [SuperInteressante – out./2015]. Entre as intenções egoístas de concentração e acumulação, que resultam em riqueza que não paga impostos justos, algumas são mais egoístas, e só produzem aberrações. O Brasil exorbita nos juros de 400% ao ano que se pagam no cartão de crédito – contra meros 40% no Peru, 24% no México ou 20% nos EUA. São desvarios do sistema financeiro, juros ocultos que escorcham o consumidor. Além da malandragem oficial do Estado, para arrancar cada vez mais impostos, concorrendo com tais práticas.


Jovens são mantidos em excitação permanente. O consumo de aparatos que levam usuários às nuvens são sinalizações orientadoras. Redes sociais na internet são semelhantes a imensas jaulas, onde se prende e se alimenta a fé na ganância. Templos gigantescos também propõem as possibilidades de um grande mercado. Como resultado, uma grande produção de fieis à mercê de personalidades midiáticas, também disponíveis no melhor lugar das salas evangélicas e católicas, abraça a negação da solidariedade.


Ideias voyeuristas expõem o ser humano como mercadoria barata, afirmando isoladamente a falta de importância do mesmo. Um fantasma assombra quem vive na cidade calcada na confiança em políticos inescrupulosos e tecnologias que o “salvarão”. Repercussões do racionalismo instrumental na simulação do julgamento da corrupção por meses a fio. Não há futuro desse juízo, todos sabemos da recorrência que não afeta a memória de ninguém.

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29o DOMINGO DO TEMPO COMUM
DEPOIS  DE PENTECOSTES – ANO “B”
Jó 38,1-7 (34-41) – Quem é este que obscurece os meus desígnio. / Salmo 104,1-9 (24 e 35c) – Um divisor de águas à nossa frente. / Hebreus 5,1-10 – O Sumo Sacerdote é rodeado de homens fracos. /Marcos 10,35-45 – Jesus: “Poder…vocês sabem o que estão pedindo?”.

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Marcos 10,35-45 – Hoje, o evangelho de Marcos apresenta um detalhe que se encaixa à realidade do ensinamento de Jesus sobre a vida pública, no ministério para o qual foi enviado, que é reconhecido por nós como revelação do projeto de Deus. Muitas reações vão aparecendo, entre os discípulos, seus ouvintes preferenciais. Marcos tem uma intenção transparente: é preciso tomar decisões; há um caminho a ser trilhado para se chegar ao Reino, roteiro para o qual também não há atalhos; é preciso conversão, metanoia (mudança nos rumos tradicionais da moralidade, da religião e da política); é necessário adotar um espírito novo, crítico das realidades no entorno, no quotidiano, na vida política e “cidadã”; é preciso tornar-se puro como a criança, descontaminada e ainda não contagiada pela inclinação  à corrupção, homens e mulheres maduros corruptores ou corrompidos, para “entrar” no Reino de Deus e participar de seu reinado; a missão integral de Deus, que alcança o ser, as instituições humanas, as ideologias, não se confunde com a sede de poder ou com propostas políticas de dominação.


O projeto de Jesus, no seguimento da missão de Deus, não está sujeito às inclinações e ideologias do momento.  A reação de Pedro, que precisa ser entendido como porta-voz do grupo todo de discípulos, diante do anúncio da Paixão (Mc,8,31-33), que resultaria na entrega total do homem Jesus  à causa; que o levaria ao despojamento total de atributos e capacidades divinais – as quais lhe garantiriam “poder” sobre seus perseguidores e algozes (cf. Fl 2,5-8; kenosis, esvaziamento em favor da solidariedade humana); que poderiam livrá-lo de todo e qualquer sofrimento e angústia; que impediria o derramamento de sangue, evitando-se o martírio em favor da “grande causa” ensinada desde os Céus, demonstra muito bem o pensamento dos discípulos.


A incapacidade dos discípulos de entenderem que a exorcização de demônios, espíritos imundos contidos nos sistemas de pensar, é também uma missão compartilhada na pluralidade cultural e religiosa dos que fazem o bem sem serem do grupo oficial de seguidores do Cristo (Mc 9,38-50) – quando os apóstolos proíbem utilizar o nome de Jesus e curar, alguém que “não é dos nossos”, num primeiro momento, Jesus, com a visão ecumênica ultra aguçada, impede que se proíba de fazer o bem a quem e por quem não seja do próprio grupo religioso, porque “quem não está contra nós está a nosso favor”).


Tudo isso é parte das dificuldades no seguimento do Evangelho de Deus. E o pior acontece quando a perplexidade toma o pensar discipular favorável à disputa de posições de mando, reivindicando “poder” sobre outros (Mc 10,37). Têm que ouvir: “Vocês sabem o que estão pedindo? Estarão vocês também dispostos a beber o cálice que eu vou beber?” Refere-se Jesus ao martírio testemunhal inevitável em andamento, como consequência da fidelidade radical ao evangelho.


Há bastantes evidências, neste texto, que Jesus preparava seus discípulos para os sofrimentos da Causa. Apesar das tradições mais sutis se esforçarem por interpretarem-no como “sofrimento espiritual”, simbólico, o que os discípulos ouvem refere-se a realidades concretas, inevitáveis (martureo, testemunhar, é o verbo adequado aqui) para quem se disponha a seguir as orientações de Jesus (cf. Joaquim Jeremias, Teologia do Novo Testamento). Que ensinamentos são estes? Desaprender o que se lhes ensinavam sobre o mal irreversível nos governos políticos, especialmente quando esse ensino exclui de sua esfera o mal da religião de regulamentos e leis auto-sustentáveis; esvaziar a consciência do fatalismo e dos determinismos históricos, os  quais negam a liberdade da fé nas transformações e esperanças de um mundo novo possível; mudar o rumo, converter-se à Causa do Reino,  para cumprir, como Jesus, a missão salvadora e libertadora de Deus.


Pensar em vantagens, benesses, partilhar do poder, são incongruências  no seguimento de Jesus. Renunciar ao “poder”, negando o fortalecimento ou a legitimidade de estruturas e instâncias de poder e domínio iníquo, injusto, absolutista, é a primeira exigência do discipulado do Cristo de Deus. Mas não nos confundamos com o paradoxo: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, as palavras de Jesus, biblicamente, permite-nos exercer nossa cidadania com segurança. Para manter-se o Estado de direito, a exigência para que afirmemos nossos posicionamentos face aos processos democráticos, notadamente quanto à escolha daqueles que deverão dirigir a nação, torna-se numa oportunidade de obediência evangélica.


Jesus disse também: “meu reino não é deste mundo”, isso implica em que “o reino de César é deste mundo”. Mas Deus ama o mundo humano (Jo 3,16), e entregou o Filho para assumir essa humanidade às últimas conseqüências. E João (3,19-21) não ignora a krisys permanente do mundo, em seu verdadeiro sentido: julgamento, condenação, separação… “o mundo está sob julgamento…”  “Deus separou luz e trevas…”  “Deus amou o mundo…” são parte da teologia evangélica sobre a polaridade entre a luz e as trevas, que também afirma: “eles amaram as trevas…”  “o perverso busca as trevas para agir impunemente…” “ não  peço que os tireis do mundo, mas livra-os do mal…”  


O serviço ao mundo amado por Deus é diaconia voltada para as desigualdades sociais e políticas, para as transformações que contemplarão os famintos, em todos os sentidos, excluídos, marginalizados, despoderados, sem cidadania e sem dignidade, dominados pelos falsos determinismos da miséria e da fome,  todas!, apontam à obediência a Jesus: “Íde, fazei discípulos em todas as nações…”(Mt 28,18-20).

Derval Dasilio
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Um pensamento em “A PROPAGANDA, O PODER E A CORRUPÇÃO

  1. Predicatores dominicos – tradução google
    Evangelho: Marcos 10,35-45.

    Ambiente: Entre as leituras do domingo passado e este, é inserido o terceiro anúncio da paixão. O contexto desses fragmentos enquadra-se no tema geral: “seguimento de Jesus”. Estes capítulos estão focados no tema da viagem do Filho do homem, que vai concluir seu trabalho, na “Cruz e Ressurreição”. Neste contexto, lições de discipulado, Marcos mostra como o mestre insere o serviço ao Reino.

    Reflexões:

    1: Nós queremos compartilhar sua soberania em glória como o seu favorito, ou representante imediato!

    Dê-nos o privilégio de sentar-nos juntos em sua glória, um à tua direita e outro à tua esquerda … “Você não sabe o que pergunta…”, disse Jesus à mulher. Os outros dez ouviram isto, e ficaram indignados com Tiago e João. Para entender esse pedido dos filhos de Zebedeu (Mateus, direciona o pedido da mãe de Tiago e João), é necessário colocar as duas realidades. Por um lado, os costumes da corte da época. Tribunais orientais, em todo os reinados, eram cercado por alguns preceitos de transparência, podiam “ver seu rosto” (lembrar a história de Esther). Isso significa que eles estão sempre perto do rei, são seus amigos, seus confidentes, seus conselheiros. É um privilégio singular, estar perto do rei. E, além disso, da esperança messiânica. Esta solicitação assumiu uma esperança messiânica política nacional, segundo a qual o Messias tem um poder político único.

    Os dois irmãos, ou mãe, discípulos, acham que poderão receber posições privilegiadas de poder. Nesta fase da vida terrena de Jesus, como parte da compreensão judaica do messianismo, o Reino de Deus se assemelha aos reinados orientais conhecidos. Jesus corrige o erro: o verdadeiro Messias vai trilhar outro caminho, o do serviço libertador, como uma expressão de humildade, para dar a sua vida para todos.

    É preciso entender que essa forma é radicalmente nova, e Marcos se esforça para deixar claro o que manifesta em seu evangelho. Jesus não é o “Mighty Servant” de acordo com categorias humanas. É uma maneira totalmente nova para entender os planos de Deus. Certamente, os pontos de vista dos dois irmãos são simplesmente humanos. Mas também a de outros, os dez restantes, estão indignados com a tentativa de tomar posse de posições privilegiadas.

    Jesus respondeu sabiamente, ao apresentar como eles devem exercer o poder em sua comunidade, que implica até a morte em favor do Reino. Hoje, a Igreja cristã também precisa de uma grande reforma, para entender o verdadeiro serviço à humanidade. Qualquer tentativa de definir a Igreja à imagem e semelhança de uma sociedade civil contraria ou, pelo menos, obscurece o Evangelho. Como uma realidade humana que é, também deve usar o fator humano como referência. Mas, com outro estado de espírito, uma outra finalidade, com outro estilo, e outras motivações, mais profundas. Porque a Igreja é muito mais do que uma sociedade civil, é o Corpo de Cristo e da presença visível a anunciar o verdadeiro Reino de Deus – também chamado de Reino da Justiça. Todos, cristãos e cristãs, são chamados a manifestar esta “nova forma de poder”, e fazê-la compreensível neste mundo.

    2: Na Igreja, comunidade dos discípulos de Jesus, a verdadeira grandeza será encontrada no serviço!

    Quem quiser ser “grande”, deve ser o “servo”; e quem quiser ser o “primeiro”, será servo de todos… O Filho do Homem veio para servir e dar a sua vida aos demais. A verdadeira grandeza, o verdadeiro Jesus oferecer-se ao mundo, com expresso nas últimas palavras de Marcos. O modelo é sempre Jesus [no AT, o servo de Yahweh]. Isso era ser, realmente, o filho de David (e ainda, o verdadeiro Filho de Deus). Que é destituído de seu posto, agindo apenas como um homem capaz de se submeter a morte na Cruz, para oferecer ao homem o verdadeiro sentido da justiça, d liberdade e da felicidade.

    Jesus está liderando o caminho, colocando-se à frente no caminho para o serviço, o serviço da Cruz. Mas essa estrada terminará na Ressurreição, vida e da glória. O Filho do Homem, Jesus, quero mostrar desta forma o verdadeiro itinerário que dá sentido profundo para homem e seu destino. Ele não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como uma garantia de liberdade para todos. Por esses caminhos devem transitar os discípulos de Jesus, no nosso mundo. Com esse espírito e esse estilo, a figura de Jesus e do seu Evangelho será mais credível e mais aceitável. Outras estradas não levam à verdade e não se tornar atraente. O “testemunho dos crentes” sobre a justiça de Deus continua a ser imperativo para oferecer o verdadeiro rosto de Jesus.
    Fr. Gerardo Sanchez Mielgo
    Convento de Santo Domingo. Torrent (Valência)

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