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[RESUMO – EVANGÉLICOS DE RAIZ PROTESTANTE MISSIONÁRIA] – Quem eram os evangélicos originais no início do século 20? Qual era a teologia que vigorava no protestantismo evangélico? Egresso do grupo evangélico, fui também ordenado pastor batista naquele período, anos 1970. Antes dos atuais (século 21), evangélicos compunham as camadas dos degraus mais baixos da pirâmide social. Estatisticamente, quase insignificante diante das religiões existentes no Brasil. Eram uma população em maioria situada socialmente abaixo da classe-média, do ponto de vista das condições de vida e de oportunidades de trabalho. Eram considerados pelo nome “os bíblias”, um pouco acima das frações miseráveis, não organizadas, também destituídas destituídas de poder econômico. Mas também uma minoria desprovida de consciência política e de classe, chamada à equidistância da política e da reclamada consciência social quando lembradas pelo movimento Igreja e Sociedade. Sendo, portanto, suscetíveis de servir aos interesses às missões norte-americanas comprometidas com uma teologia a serviço do “american way of life”, ou no mínimo da Doutrina Monroe (o que é bom para a América é bom para o mundo).

[-] Convertidos deviam afastar-se de atividades esportivas e de diversões mundanas, procurando o que se chamava “santificação”, segundo os movimentos de reavivamento importados dos EUA. Devia também afastar-se de marginais, distanciarem-se de traficantes, alcoolistas, fumantes, usuários de drogas, moradores de rua, ladrões, ex-presidiários, fugitivos da justiça, escroques, delinquentes, batedores de carteira e pequenos ladrões. Ao mesmo tempo, nunca identificar-se com desocupados, vagabundos, policiais tornados milicianos, mendigos, escórias da sociedade ao lado de viciados no jogo do bicho, loterias.

[-] Em uma das mais clássicas caracterizações a teologia evangélica dos costumes com a conjunção de vários ângulos. Biblicismo, tendência sobre uma consideração particular pela Bíblia. Por exemplo, todas as verdades espirituais, morais, devem ser encontradas na Escritura, influenciando diretamente os costumes. Enquanto a leitura horizontal da Bíblia se tornava uma exigência, literalmente, como pontos de honra inarredáveis. O evangélico das primeiras décadas do século 20 era também convidado a sair da classe social dos arruinados, envolvidos nos meios duvidosos de vida e de duvidosa procedência, junto a descendentes degenerados e aventureiros do degrau acima na escala social. O fiel evangélico, portanto, deveria afastar-se da massa informe, difusa e socialmente no erro e no “pecado”. Expressas nas correntes evangélicas, linhas teológicas dos costumes, reunidas em diversas confissões (batista, presbiteriana, metodista, luterana, e outras), a autoridade da Bíblia é colocada como soberana na fé cristã evangélica. A Bíblia era considerada inspirada pelo próprio Deus, e é a autoridade para todo e qualquer assunto, doutrinal ou moral. O evangélico devia afastar-se do mundo, ou seja, dos “costumes pecaminosos” da sociedade onde vivia. A Bíblia era considerada um manual orientador no que diz respeito a todos os aspectos da vida. Muitas vezes chamada de “a Palavra de Deus” ou “Escritura”, a Bíblia é considerada infalível e, em alguns círculos evangélicos, sem erro nas informações que oferece ao leitor. Essa noção é chamada de “inerrância bíblica”.

A Bíblia é também interpretada literalmente, e em particular nas correntes ultraconservadoras ou fundamentalistas, mais conservadoras em matéria religiosa. Aqui se separam o estudo da Bíblia combinado com ciências semiológicas, e disciplinas como hermenêutica, exegese, epistemologia e apologética. A ruptura fundamentalista, com a afirmação literal, separam-se estudos científicos da religião dos estudos bíblicos sob crivo científico. Fundamentalistas e adeptos da “reta doutrina” recusam meios científicos como heresia doutrinal. Por fim, o evangélico devia “viver no mundo sem ser do ‘mundo”’. Não é preciso dizer mais, quando a religião evangélica abandonou de vez seus fundamentos para abraçar as teologias da prosperidade e a consequente teologia de domínio.

NOTA ESTATÍSTICA – Em 1950 a população do Brasil tinha 51.944 milhões de brasileiros. 8,1% eram evangélicos. Ou, 4,1 milhões de brasileiros, 8%, eram evangélicos, na década 1950. Em 1991, ainda representavam apenas 9% da população, entre evangélicos originais das missões protestantes desde o século 19, reunindo agora pentecostais e outras correntes neopentecostais surgidos desde 1910 e 1970. Entre 2000 e 2010, o total de evangélicos no Brasil subiu de 26,2 milhões para 42,3 milhões em 2010. A proporção dos evangélicos em relação à população do país avançou para 26% da população brasileira. No censo de 2022 evangélicos totalizaram cerca de 65 milhões entre 203.062 milhões. Estimativas confirmadas em pesquisas de opinião pública sugeriam uma fração ainda maior da população em 2022 (31% são evangélicos). Perto de 1/3 dos brasileiros é evangélico.

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