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CALENDÁRIO LITÚRGICO 2013-2014-2015-2016-2017

CICLO DO NATAL
1.1 ADVENTO
1.2 NATAL
1.2.1 EPIFANIA

1.3 CICLO DO TEMPO COMUM – 1a.Parte (Depois da Epifania)

2. CICLO DA PÁSCOA

2.1 TRÍDUO PASCAL

2.1.1 QUARESMA

2.1.1.1 DOMINGO DE RAMOS
2.1.1.2 QUARTA-FEIRA DE CINZAS

2.1.1.3 QUINTA-FEIRA DA PAIXÃO

2.1.1.4 SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO

2.1.1.5 VIGÍLIA PASCAL / DOMINGO DA RESSURREIÇÃO

2.1.2 TEMPO PASCAL

2.1.2.2 ASCENSÃO

2.1.2.3 PENTECOSTES

3. CICLO DO TEMPO COMUM – 2a.Parte (Depois de Pentecostes)
3.1 TRINDADE
3.2 AÇÃO DE GRAÇAS
3.3 REFORMA
3.4 CRISTO REI DO UNIVERSO

3 pensamentos em “ANO A – CALENDÁRIO, CICLOS E DOMINGOS LITÚRGICOS

  1. ARQUIVO – DOMINGOS LITÚRGICOS
    5o. domingo do tempo comum (A) – 2014
    Primeira leitura: Isaias 58,7-10
    Tua luz brilhará como a aurora
    Salmo responsorial: Salmo 111(112),4-5.6-7.8a.9 (R.4b 3b)
    Uma luz brilha nas trevas para o justo, permanece para sempre o bem que fez.
    Segunda leitura: 1 Corintios 2,1-5
    Anunciei entre vós o mistério de Cristo crucificado
    Evangelho: Mateus 5,13-16
    Vós sois o sal da terra e a luz do mundo

    As leituras de hoje têm como tema central a justiça de Deus, expressada plenamente no amor misericordioso para com o próximo. O relato lido do profeta Isaías situa-se no contexto do jejum, onde se realiza uma forte crítica ao povo de Israel por suas práticas religiosas desarticuladas da fé e da justiça para com os pobres. O profeta chama a realizar o verdadeiro culto a Javé, ligado intimamente com a justiça e a misericórdia.

    As diferentes práticas religiosas deve sair do coração e devem dar o fruto de uma verdadeira justiça social, concretizada na partilha do pão para com o faminto, na solidariedade com os que sofrem, na preocupação visceral com os irmãos pobres, pois neles, no abatidos, nos mal vistos, é onde o mesmo Deus se revela; é neles que a luz de Deus se faz presente; é neles que o Deus de Israel verdadeiramente habita. Em relação com o anterior, Paulo expressa aos coríntios que o mistério de Deus, anunciado por ele, não se fundamenta na sabedoria humana, mas no mesmo Senhor crucificado, o qual significa que é Deus quem agiu em Paulo e na comunidade.

    É relevante que Paulo se refira à cruz de Cristo como o elemento essencial de sua pregação. Com esse elemento quer tornar presente o verdadeiro rosto de Deus que se revela, não aos sábios nem aos poderosos, mas aos que estão em situação de risco na sociedade. Daí que o anuncio da Palavra transformadora de Deus não pertença ao mundo da sabedoria humana, mas à força salvadora do Espírito de Deus.

    Isto significa que a fé e seu devido comportamento moral, sintetizado na justiça e na misericórdia, seja uma iniciativa exclusiva de Deus, uma ação libertadora que penetra no coração do ser humano e que o impele a agir de uma maneira coerente com a Palavra escutada. Portanto, o anúncio do mistério de Deus, realizado por Paulo à comunidade grega de Corinto, é sua própria experiência de Cristo. O que realmente anuncia é a vivencia dessa mensagem.

    O evangelho de Mateus, expressa a missão dos crentes de todos os tempos: ser sal e luz para o mundo. Tanto o sal como a luz são elementos necessários na vida cotidiana das famílias. O sal dá sabor aos alimentos, conserva-os, purifica. Na antiga Palestina o sal servia para acender e manter o fogo dos fornos de terra. Por sua parte, como é sabido, a luz dissipa as trevas, ilumina e orienta as pessoas. É a metáfora perfeita empregada pelo AT para referir-se a Deus.

    É a tarefa dos profetas e, em especial, a do Messias: ser luz das nações (Is 42,6). Sal e luz, então, falam da tarefa do seguidor fiel de Jesus que tem como missão expressar a fé, sua integração ao projeto de Deus através do testemunho de vida através das boas obras, dos bons frutos.

    O seguidor tem ainda a missão de manter o sabor e a luminosidade da Palavra de Deus em todo tempo e lugar do mundo, tarefa que unicamente se consegue por meio de uma consciência plena da necessidade de fomentar, na comunidade mundial, a justiça e a solidariedade entre os irmãos. E quando a Igreja não é “luz do mundo”, mas que também manifesta sua obscuridade, o pecado de seus fiéis e até de seus sacerdotes e bispos, e a falta de renovação para ser sal da terra?

    Também é preciso questionar-se a respeito disso. Porque a frase do evangelho não é uma declaração dogmática que nos torne imunes ao mal… O mal e o pecado também adentram em nossas vidas, e na do coletivo eclesial. Às vezes falta-nos coragem para ver, para reconhecer e combater o pecado em nosso meio..

    É um dever combater o mal, também quando o vemos dentro de nossa Igreja. Não manifesta amor o que cala… Certamente que a denuncia do mal da Igreja tem que ser por amor, porém um amor provavelmente conflitivo, que encontrará resistências. Porém, o amor não é capaz de calar de forma cúmplice, quando se sente na obrigação de combater o mal, precisamente por amor.

    Oração: Ó Deus, Pai universal, que em Jesus nos convidas à Boa Nova que ele nos trouxe; faze que os cristãos façamos valer socialmenete os valores do amor e de serviço do Evangelho, para que seja mais fácil aos nossos irmãos reconhecer a presença que já tu tens neles e assim sejamos efetivamente “sal e luz da terra”. Nós te pedimos com o olhar fixo em Jesus, filho teu e irmão nosso. Amém.

    Servicios Koinonia – 6o. domingo do tempo comum (A) 2014
    Eclo 15,16-20: No mandó pecar al hombre
    Salmo responsorial 118: Dichoso el que camina en la voluntad del Señor
    1Cor 2,6-10: Dios predestinó la sabiduría antes de los siglos para nuestra gloria
    Mt 5,17-37: Se dijo a los antiguos, pero yo les digo

    Las lecturas de este domingo tienen como fin hacernos ver cómo Dios actúa en medio de la humanidad, nos permiten comprender la lógica de Dios, nos revelan la manera en que Dios salva al ser humano del pecado, entendiendo el pecado como esa tendencia presente en el interior de la persona que la lleva a encerrarse en sí misma, en sus propios límites humanos, sin poder abrirse a la experiencia infinita de salvación traída por el mismo Dios.

    La primera lectura, del libro del Eclesiástico, desarrolla el tema de la libertad que posee el ser humano para elegir lo bueno o lo malo, la vida o la muerte. Somos libres, y «condenados a ser libres» de alguna manera. No podemos abdicar de nuestra responsabilidad. Ante nosotros tenemos las grandes opciones, las grandes Causas, esperando que nos decidamos. «Muerte y vida» están ante nosotros, al alcance de nuestra mano, por la vía de una opción ineludible.

    Si en nuestra vida dominan el mal y la muerte, y con ellos el sinsentido y la desesperación, hemos sido advertidos: podemos hacer de nuestra vida una cosa u otra, gracias al poder de la libertad que se nos ha dado, la capacidad de elegir la muerte o la vida, y con ello, la capacidad de convertirnos en vida o en muerte. La capacidad de hacernos a nosotros mismos. Es uno de los misterios más grandes de nuestra existencia, el misterio de la libertad.

    En el fragmento de la carta a los Corintios que hoy leemos, Pablo habla, de pasada, de «una sabiduría que no es de este mundo», que procede de otro mundo, que está en otro mundo, el mundo de Dios, que es un mundo «superior», situado literalmente encima del nuestro. Es el mundo superior que los filósofos y sabios del mundo cultural helenista han «imaginado» (no deja de ser una «imagen») para explicar la realidad, y que ha resultado ser una imagen genial, que parece expresar una explicación natural y obvia del mundo, que será acogida por casi todas las culturas subsiguientes (hasta la época moderna).

    Y es un conocimiento escondido, inalcanzable, que nada tiene que ver con los saberes de este mundo, y que pertenece sólo a Dios y a quienes Él quiera revelarlo… Es la visión «gnóstica», de la «gnosis» o «conocimiento», un conocimiento divino que pasa a fungir como símbolo del principal bien salvífico: participar de ese conocimiento que salva es el objetivo de la vida humana, porque ese conocimiento es el que salva a la persona al hacerle tomar las decisiones adecuadas en su vida, las decisiones que le hacen caminar el camino de Dios. Es la misma tradición de «la Sabiduría», ya presente en el Primer Testamento, por influjo también helenista. Pablo se mueve en ese mismo ámbito de pensamiento y en esa misma cosmovisión griega de los dos mundos, o dos pisos, uno arriba (el de Dios y los suyos, o el de las Ideas, según Platón) y otro abajo (el de los humanos, o el de la materia corruptible según Platón).

    Hoy continuamos leyendo el evangelio de Mateo, en secuencia consecutiva con los fragmentos proclamados en los domingos anteriores. Es el sermón de la Montaña, que comenzó con las Bienaventuranzas, y que continúa con la exposición de las exigencias de la Ley de Moisés (Torá), explicadas por Mateo, que está escribiendo para una comunidad de judíos que se han hecho cristianos, obviamente sin dejar de ser judíos, como ocurrió por lo demás con todos los cristianos. Tenemos pues que caer en la cuenta de que esta re-presentación de la Ley en el evangelio de Mateo está escrita para esa comunidad concreta, que difiere no poco de las nuestras. Obviamente, tiene también un valor universal, pero debe saberse la peculiaridad de esta comunidad, para no hacernos «judaizar» innecesariamente a todos los demás.

    Pero, además de esa peculiaridad del evangelio de Mateo, todo el evangelio tiene otra peculiaridad significativa en este campo de lo moral, de la Ley, y es semejante a la que hacíamos notar respecto a la lectura anterior, la de Pablo sobre el conocimiento salvífico o gnosis. La moral vendría a ser también una especie de conocimiento gnóstico: es una voluntad, divina, superior, venida de fuera, desde arriba, desde «el segundo piso», que tenemos que tratar de escuchar en esa dirección. Es una moral «heteró-noma», una norma ajena, venida de fuera, y de arriba, a la que nos tenemos que someter. Someterse a esa ley es el sentido de la vida humana.

    La moral, los preceptos, los mandamientos… con su constricción sobre la vida humana, y la consiguiente amenaza de pecado y de condenación, han sido uno de los frentes clásicos de fricción de la religión con el mundo moderno. Durante todo el mundo antiguo, configurado con los patrones del autoritarismo, los imperios, el feudalismo, las monarquías absolutas… el ser humano aceptaba «como lo más natural del mundo» que el «mundo de arriba» era estructuralmente como el de aquí abajo, es decir, un mundo donde está Dios sentado en su trono (como el emperador o el rey o el señor feudal aquí abajo), con su séquito de cortesanos y servidores de la «Corte celestial» (como en la Corte de cualquier rey humano), vigilando el mundo para que se cumplan las órdenes que desde allí se dictan.

    San Ignacio de Loyola, como hombre todavía del medievo en su cosmovisión, lo refleja ejemplarmente en su explicación global del sentido de la vida humana, en su meditación central, la del Principio y fundamento (con su castellano medieval): «el hombre es criado para alabar, hacer reverencia y servir a Dios nuestro Señor y, mediante esto, salvar su ánima; y las otras cosas sobre la haz de la tierra son criadas para el hombre, y para que le ayuden en la prosecución del fin para que es criado. De donde se sigue, que el hombre tanto ha de usar dellas, quanto le ayudan para su fin, y tanto debe quitarse dellas, quanto para ello le impiden. Por lo qual es menester hacernos indiferentes a todas las cosas criadas, en todo lo que es concedido a la libertad de nuestro libre albedrío, y no le está prohibido; en tal manera, que no queramos de nuestra parte más salud que enfermedad, riqueza que pobreza, honor que deshonor, vida larga que corta, y por consiguiente en todo lo demás; solamente deseando y eligiendo lo que más nos conduce para el fin que somos criados» (Ejercicios espirituales, 23).

    No inventó nada nuevo ahí san Ignacio. Expresaba -antológicamente, eso sí- la visión medieval y premoderna de una cosmovisión salvífica estructurada en dos pisos, uno superior (no sólo porque está encima, sino porque es absolutamente superior en su naturaleza), y otro inferior (temporal, pasajero, corruptible, peligroso…). Del piso de arriba viene todo: el Ser, el Amor, la Verdad, la Belleza… y la moral. Una moral pues absolutamente heterónoma, indiscutible, abrumadoramente inapelable, y en ese sentido fácilmente perceptible como constringente y ciegamente obligatoria, ajena a toda explicación justificativa, y en ese sentido opresiva.

    El mundo moderno cambió radicalmente. El Ancien Regime del autoritarismo, imperialismo, de la obediencia ciega, del sometimiento omnímodo y a-racional se acabó. Los imperios, reinos y monarquías se acabaron, y aparecieron las repúblicas y las democracias, y los derechos de los ciudadanos (que ya no súbditos). Una moral exterior, pre-establecida, superior, sin justificación, inapelable… es sentida ahora como sofocadoramente opresora.

    Con el advenimiento de la modernidad, en todos los campos, el mundo de arriba -el segundo piso que genialmente configuraron los helenistas, con Platón a la cabeza- desaparece, como que se evapora. No hace falta que sea negado, sino que la ciencia, con sus avances, cada día lo desplaza hacia atrás, replegándose en favor del descubrimiento de que todo funciona «etsi Deus non daretur», como si Dios no existiese. El cristiano moderno -el que no sigue viviendo con su cabeza en el mundo premoderno medieval- no puede aceptar aquella visión escindida en dos mundos, por muy espiritual que se presente, sino que pasa a vivir en un mundo nuevo, un mundo único, en la única realidad, sin dos pisos superpuestos.

    Esta transformación ya es una realidad en la cultura moderna -por más que muchos cristianos y no pocas religiones sigan viviendo escindidamente entre la vida real de la calle y la vida espiritual dualista de sus representaciones religiosas-. Por eso, muchos cristianos se sienten retrotraídos al mundo de sus abuelos cuando escuchan este tipo de discursos morales «heterónomos», como si continuaran existiendo unos preceptos caídos de lo alto, revelados, y por eso mismo indiscutibles, incuestionables, a los que sólo cabría someterse acríticamente como súbditos del Rey del cielo (de un segundo piso).

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  2. Primeira leitura: Eclesiástico 15,16-21
    A ninguém mandou agir como ímpio
    Salmo responsorial: Salmo 118(119),1-2.4-5.17-18.33-34
    Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo
    Segunda leitura: 1 Corintios 2,6-10
    Deus destinou, desde a eternidade, uma sabedoria para nossa glória
    Evangelho: Mateus 5,17-37
    Assim foi dito aos antigos; eu, porém, vos digo

    As leituras deste domingo tem como finalidade fazer-nos ver como Deus age no meio da humanidade, permitem-nos compreender a lógica de Deus, nos revelam a maneira de Deus salvar o ser humano do pecado, entendendo o pecado como essa tendência presente no inteiror da pessoa que a leva a encerrar-se em si mesma, em seus próprios limites humanos, sem poder abrir-se à experiência infinita de salvação trazida pelo próprio Deus.

    A priemiera leitura, do livro do Eclesiástico, desenvolve o tema da liberdade que o ser humano possui para escolher entre o bem e o mal, a vida e a morte. Somos livre e “condenados a ser livres” de alguma forma. Não podemos abdicar de nossa responsabilidade. Diante de nós temos as grandes opções, as grandes causas, esperando que nos decidamos. “More e vida” estão diante de nós, ao alcance de nossa Mao, pela via de uma opção firme.

    Se em nossa vida dominam o mal e a morte, e com isso a falta de sentido e a desesperança, já fomos advertidos: podemos fazer de nossa vida uma coisa ou outra, graças ao poder da liberdade que nos foi dada, a capacidade de escolher a morte e a vida e com isso a capacidade de converter-nos em vida ou em morte. A capacidade de fazer-nos a nós mesmo. É um dos mistérios maiores de nossa existência, o mistério da liberdade.

    No fragmento da carta aos Coríntios, Paulo fala, mesmo que de passagem, de “uma sabedoria que não é deste mundo”, que procede de outro mundo, que está em outro mundo, o mundo de Deus, que é um mundo “superior”, situado literalmente acima de nós. É o mundo superior que os filósofos e sábios do mundo cultural helenista “imaginaram” (não deixa de ser uma “imagem”) para explicar a realidade e que acabou se tornando uma imagem genial, que parece expressar uma explicação natural e óbvia do mundo, que será acolhida por quase todas as culturas subseqüentes (até a época moderna).

    E é um conhecimento escondido, inalcançável, que nada tem que ver com os saberes deste mundo e que pertence somente a Deus e a quem ele queira revelar… É a visão “gnóstica”, da “gnose” ou “conhecimento”, um conhecimento divino que passa a ser como que um símbolo do principal bem salvífico: participar desse conhecimento divino que salva é o objetivo da vida humana, porque esse conhecimento é o que salva a pessoa e a faz tomar as decisões adequadas em sua vida, as decisões que a fazem caminhar o caminho de Deus.

    É a mesma tradição da “sabedoria”, já presente no Primeiro Testamento também por influxo helenista. Paulo se move nesse âmbito de pensamento e nessa mesma cosmovisão grega dos dois mundos, ou de dois pisos, um de cima (o de Deus e dos seus, ou das idéias, segundo Platão) e outro abaixo (o dos humanos, ou da matéria corruptível, segundo Platão).

    Hoje continuamos lendo o evangelho de Mateus, em sequencia consecutiva com os fragmentos proclamados nos domingos anteriores. É o sermão da Montanha, que começou com as Bem aventuranças e que continua com a exposição das exigências da Lei de Moisés (Torá), explicadas por Mateus, que está escrevendo para uma comunidade composta por judeus, que se tornou cristã, obviamente sem deixar de as pessoas serem de origem judaica, como ocorreu com os demais cristãos.

    É preciso atenção, pois, para o fato de que a representação da Lei no evangelho de Mateus está escrita para essa comunidade concreta, que difere muito das nossas leis. Obviamente, tem também um valor universal, porém deve-se ter noção da peculiaridade dessa comunidade, para não “judaizar” desnecessariamente a todos os demais.

    Porém, além dessa peculiaridade do evangelho de Mateus, todo o evangelho tem outra característica significativa neste campo da moral, da Lei, que é semelhante a que fazíamos notar a respeito da leitura anterior, a de Paulo, sobre o conhecimento salvífico ou gnose. A moral viria a ser também uma espécie de conhecimento gnóstico: é uma vontade, divina, superior, vinda de fora, desde cima, desde “o segundo piso”, que temos que tratar de escutar nessa direção. É uma moral “hetero-norma”, um norma alheia, vinda de fora, de cima, à qual temos que nos submeter. Submeter-se a essa lei é o sentido da vida humana.

    A moral, os preceitos, os mandamentos… com sua constrição sobre a vida humana, e a conseqüente ameaça de pecado e de condenação, foram uma das fontes clássicas de fricção da religião com o mundo moderno. Durante todo o mundo antigo, configurado com os padrões do autoritarismo, dos impérios e do feudalismo, das monarquias absolutas… o ser humano aceitava “como o mais natural do mundo” que o “mundo de cima” era estruturalmente como o daqui de baixo, isto é, um mundo onde Deus está sentado em seu trono (como o imperador ou o rei ou o senhor feudal aqui embaixo), com seu séquito de cortesãos da “corte celestial” (como a Corte de qualquer rei humano), vigiando o mundo para que se cumpram as ordens que desde cima eram ditadas.

    Santo Inácio de Loyola, como homem de cosmovisão medieval, reflete belamente em sua explicação global a respeito do sentido da vida humana, em sua meditação central, a do Prinípio e fundamento: “o homem é criado para louvar, para fazer reverencia e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isso, salvar sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem e para que o ajudem a conseguir o fim para o qual foi criado.

    De onde se segue que o homem pode usar das coisas para alcançar o seu fim, e deve deixar as coisas que o impedem de alcançá-lo. Por isso é necessário manifestar indiferença perante todas as coisas criadas, o tanto quanto possível ao nosso livre arbítrio, contanto que não sejam coisas proibidas; dessa maneira que não queiramos de nossa parte mais saúde que enfermidade, mais riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que curta, e, cosequentemente, em tudo o mais; somente desejando e escolhendo o que mais nos conduz ao fim a que somos criados” (Exercicios Espirituais, 23).

    Santo Inacio não inventou nada de novo. Expressava, antologicamente, isso sim, a visão medieval e pré-moderna de uma cosmovisão salvadora estruturada em dois pisos, um superior (não somente porque está em cima, mas porque é absolutamente superior em sua natureza), e outro inferior (temporal, passageiro, corruptível, perigoso…). Do piso de cima vem tudo: o Ser, o Amor, a Verdade, a Beleza… e a moral. Uma moral, pois, absolutamente heterônoma, indiscutível, absolutamente inapelável e, nesse sentido, facilmente, perceptível como constringente e cegamente obrigatória, alheia a toda explicação justificativa e, nesse sentido, opressiva.

    O mundo moderno mudou radicalmente. O Ancien Regime do autoritarismo, imperialismo, da obediência cega, do submetimento omnímodo e a-racional acabou. Os impérios, reinos e monarquias acabaram, e apareceram as repúblicas e as democracias, e os direitos dos cidadãos (já não súditos). Uma moral exterior, pré-estabelecida, superior, sem justificação, inapelável… é sentida agora como sufocadoramente opressora.

    Com a vinda da modernidade, em todos os campos, o mundo de cima, o segundo piso, que genialmente configuraram os helenistas, com Platão à frente, desaparece como que evapora. Não faz falta que seja negado, mas que a ciência, com seus avanços, cada dia o deixa para trás, em favor da descoberta de tudo que funciona “como se Deus não existisse”. O cristão moderno, o que não vive com sua cabeça no mundo pré-moderno medieval, não pode aceitar aquela visão dividida em dois mundos, por muito espiritual que se apresente, senão que passa a viver em um mundo novo, um mundo único, uma única realidade, sem dois pisos superpostos.

    Essa transformação é uma realidade na cultura moderna, por mais que muitos cristãos e não poucas religiões continuem vivendo separadamente entre a vida real e a pública, por um lado, e a vida espiritual dualista de suas representações religiosas, de outro. Por isso, muitos cristãos se sentem retraídos ao mundo de seus avós quando escutam este tipo de discurso de uma moral “heterônoma”, como se continuassem existindo preceitos caídos do alto, revelados, e por isso mesmo, indiscutíveis, inquestionáveis, aos quais somente caberia submeter-se acriticamente como súditos do Rei do céu (de um segundo piso).

    Oração: Deus nosso, que em nossa tradição judaico cristã nos deste antigamente uma lei revelada, escita em tábuas de pedra e referendada com a ameaça de castigo depois da morte. Ajuda-nos a passar a descobrir um novo sentido moral, nao baseado no temor do castigo, nem na promessa de premio, mas no valor mesmo da Verdade e do Bem. Isto te pedimos, inspirados em Jesus, Tua Palavra para nós. Amém.

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