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“Das profundezas eu clamo a ti, Senhor: Senhor, ouve os meus gritos de aflição! Que os teus ouvidos estejam atentos ao meu pedido de misericórdia! Senhor, ai de nós se levas em conta as culpas que carregamos, quem poderá resistir a seu peso? Mas de ti vem o perdão, e assim infundes respeito pela salvação que precisamos. Minha alma aguarda a salvação, Senhor, mais que os guardas noturnos pelo romper da aurora. Pois é do Senhor que vêm a Graça e a redenção em total abundância”.

Mergulhados em abismos, perguntamos: por que Deus não intervém num mundo que sofre? Por que Deus não coloca um anjo nas portas da cidade de nossa alma para livrá-la da corrupção ? Vivemos num mundo que coloca o abuso do espírito, a ganância, o orgulho supremacista, a cobiça, em primeiro lugar. E nos colocamos secretamente como cúmplices desse mundo, permitindo ser arraigadas profundamente em nós a ocultação de nossas fraquezas. Precisamos admitir que somos coniventes ou indiferentes aos desastres e a impiedade ao nosso redor, omissos diante de tudo que destrói o semelhante, a desigualdade, o abandono dos mais fracos, a guerra, o ódio do irmão contra o irmão, a adesão ao absurdo, na incapacidade de nos comovermos com o sofrimento dos abandonados, o luto de milhares de refugiados sob um holocausto, desprezados pelos que poderiam reduzir tais sofrimentos. Tudo convidando-nos à indiferença, ocultando o sofrimento, angústia, destruição, ruína, acompanhando a ascensão do mal que se constrói e reconstrói em esforços incessantes em nosso meio.

O absurdo nos acompanha, sem princípio nem fim, recomeçando e terminando consecutivamente numa repetição eterna, como se fora um projeto sem sentido, ou uma farsa burlesca, um espetáculo universal de brutalidades sem hora para começar ou terminar. Devíamos dizer: não compreendemos que Tu, ó Deus, nos respeitas e nós não te respeitamos. Que os desdobramentos de nossa cumplicidade com um mundo sem compaixão não são responsabilidade Tua, mas nossa responsabilidade. Que os frutos do abandono da fé e da confiança em Ti envenenam nossas almas, revelando as raízes podres no chão em que vivemos. Deixamos de aceitar que somente Tu podes fecundar o solo íntimo do nosso ser, e daí produzirmos bons frutos. Frutos que Tu esperas de nós. Confessamos que só Tu podes medir em profundidade os nossos pecados, sondando, alcançando mais fundo a extensão das nossas fraquezas.

Precisamos, sim, antes de tudo dizer: Senhor, humildes eis-nos aqui prostrados, bem sabemos que não merecemos Teu favor. Que nos vejamos como somos, ainda que uma única vez… Estamos arrependidos e quebrantados, tem compaixão de nós, somos pecadores mergulhados no fundo de abismos oceânicos, lugar onde depositamos nossas almas abusando da liberdade que nos concedeste. Socorre-nos, tem piedade de nós, ó Deus. Amém.

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